quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os riscos da futilidade pública

Os riscos da futilidade pública

O que poderia ser mais complexo do que uma discussão sobre estética? Entre os defensores assíduos das modelos perfeitas e os críticos veementes da escravidão da beleza, os assuntos relacionados à estética não podem passar impunes nos meios de comunicação.

O maior problema é a forma com a qual os veículos tratam do assunto. Com base nos interesses comerciais qualquer ideia, técnica, método ou produto, bom ou ruim, pode ser amplamente divulgado, defendido ou representado em matérias supostamente jornalísticas.

O limite do real e do imaginário tem sido transcendido, cada dia com mais audácia. Mentiras grotescas são contadas sem escrúpulos e sem receio de uma reação popular. Isso porque as pessoas acreditam piamente em tudo o que é publicado.

Em maio deste ano, uma revista feminina publicou uma foto escandalosamente adulterada de uma atriz de 66 anos, aparentemente encarnada em um corpo de uma mulher de 30. A matéria falava sobre a boa forma da celebridade, mas estampava fotos mentirosas, completamente fora da realidade.

Será que um veículo que se presta a esse papel pode ser confiável em assuntos tão delicados como cirurgia plástica, dietas de emagrecimento ou cosméticos abrasivos?

Me fiz essa pergunta na semana passada, quando soube o motivo da aparência grotesca de uma colega de trabalho. Com a pele do rosto em um vermelho vivo e quase completamente descamada, ela me disse que havia utilizado um produto a base de ácido que, de acordo com a matéria de uma revista, prometia o fim das manchas no rosto.

O produto, adquirido em farmácia sem receita médica, foi utilizado, mas o futuro só o tempo dirá. A possibilidade de efeitos colaterais sérios não pode ser descartada, principalmente pelo fato de que nem ela, nem a farmácia da qual ela comprou sabem se é normal ou não. Reação natural ao uso do composto ou reação alérgica, agora só o médico poderá dizer.
A revista não apresentava detalhes mas citava o nome do princípio ativo milagroso que foi facilmente encontrado, a farmácia se prontificou a vender como um simples cosmético. Mas e a responsabilidade com o leitor onde é que foi parar?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cota para negros

Quem é branco? Quem é negro? Quem é pardo? Como as universidades públicas estão definindo a raça de seus candidatos à uma vaga reservada através do regime de cotas para negros? O sistema implantado para garantir a inclusão social do negro na universidade tem gerado à sociedade mais perguntas do que respostas.

O Brasil possui uma mistura de raças que não se vê em outras regiões do mundo. Aproximadamente 87% dos brasileiros tem pelo menos 10% de genes de africanos, segundo o geneticista Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Isso faz com que a maioria dos brasileiros possa ser considerado pardo, independente da cor da pele. Esse é um dos problemas vivenciados no momento de se definir quem pode e quem não pode concorrer a uma vaga. E como ele é resolvido? Isso depende de cada universidade.

Fora a questão operacional outros problemas são dignos de nota. O que fazer com a indignação daqueles candidatos de baixa renda que estudaram com afinco e perderam suas vagas para os cotistas? Como definir a questão de um candidato pardo de classe média alta que é aceito através das cotas? Nesse caso, não seria melhor transformar o sistema de cotas, alterando o processo de seleção para os candidatos de baixa renda sem determinação de cor?

Os motivos para a defesa da cota por raça são os mais diversos. Existem aqueles que garantem que essa é a única forma de compensar os anos de escravidão e posterior descaso que marginalizou a população negra, arrastando-a para a periferias. Mas não podemos esquecer que, embora principal, essa não é a única causa da situação vivenciada nos dias atuais.

É certo que a herança da senzala ainda é sentida de maneira pesada e não é possível negar a disparidade na quantidade de negros e brancos entre os profissionais formados. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007, 3,9% da população de negros e pardos com mais de 25 anos tinha ensino superior completo. Entre os brancos, o percentual é três vezes maior: 12,6%.

Mas essa mesma pesquisa mostra queda no percentual de negros cursando o ensino superior de 5,6 em 1997 para 2,6 em 2007. Uma redução dessa magnitude só pode ser explicada pela diminuição da qualidade dos ensinos básico e fundamental.

A instituição de cotas nas universidades é um método paliativo que visa diminuir a disparidade em curto prazo. Mas o preço disso é o início de um conflito racial que não acrescenta, na verdade complica a situação das minorias no Brasil.

A questão poderia ser resolvida através de políticas sociais que trabalhassem o ensino público de forma a torná-lo mais competitivo em relação ao privado. Isso seria útil para as classes menos favorecidas, independente da cor, mas com certeza aumentaria a quantidade de negros nas universidades uma vez que os negros são maioria entre as classes mais baixas.

Sabemos que nada compensará os anos de escravidão do negro no Brasil, principalmente uma lei que consegue gerar mais ódio e segregação do que estimular o desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa, seja ela negra, parda ou branca; mas a intenção de mudança deveria ser sempre social e nunca racial.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A violência no Brasil, causa ou consequência?

O país tem assistido ao alarmante aumento da violência, principalmente nos grandes centros urbanos. Crescimento da criminalidade, assaltos, estupros, homicídios, latrocínios, abusos policiais, violência doméstica, parece não existir limites para tanta crueldade.

A definição de crueldade no dicionário é qualidade do que é cruel, duro, insensível, intratável, desumano, impiedoso. O nível de egoísmo e a falta de consideração com o próximo somados à exacerbada defesa de interesses próprios já estão estabelecidos na cultura de nosso país. A lei do "levar vantagem em tudo" quando aplicada por alguém certamente criará prejuízo em outra pessoa, temos aí o produto da equação, um injustiçado.

O injustiçado por sua vez, procura aplicar a mesma lei já enraizada em sua mente, e acaba por se compensar produzindo outros injustiçados. Eis o desenvolvimento das injustiças que, em larga escala, produz parte dos índices de violência atuais.

É claro que isso não é tudo. Faltam incentivos sociais à população de baixa renda, educação, empregos, saúde, lazer e segurança que deviam ser fornecidos ou regulados pelo Estado. Falta justiça e sobra impunidade.

Li recentemente um artigo que estabelecia uma relação direta da violência com o chamado desemprego de ingresso, o insucesso na inserção dos jovens no mercado de trabalho formal. Não considero essa como uma causa real, isso porque o maior problema envolvido neste caso não é a falta de emprego mas a falta de qualificação dos jovens, um problema da educação.

É notório que muitos jovens nas favelas das grandes cidades se envolvem com o tráfico de drogas por opção. Sem perspectivas de crescimento, o que você escolheria no lugar de um deles? Ganhar por mês um salário mínimo, insuficiente para as necessidades básicas de uma pessoa ou ganhar o mesmo que um vereador ou deputado, enfrentando riscos semelhantes ao que já enfrenta todos os dias?

A solução da violência não é simplesmente reforçar o policiamento ou desbaratar quadrilhas do tráfigo de drogas. O princípio é a educação. Não falo só dos conhecimentos da escola, mas da educação do comportamento, aquela que recebemos na formação do caráter.

É através da educação que o país terá jovens empreendedores, e é também através dela que pode ser criada uma consciência coletiva, de respeito ao próximo, que ensina ser errado infligir a outros o que não gostaríamos de sofrer.

ACIDENTE NO CENTRO: QUEDA DE ANDAIME CAUSA MORTE

(Texto produzido na faculdade, baseado na primeira estrofe da música "construção" de Chico Buarque)

O pedreiro João Andrade da Silva, 44, faleceu na tarde de ontem depois de cair de um andaime da construção em que trabalhava, no cruzamento da avenida Floriano Peixoto com a rua Duque de Caxias. A causa da queda ainda não foi comprovada, mas há suspeita de problemas nos equipamentos de segurança.

Testemunhas que passavam pelo local afirmaram que o operário se encontrava sozinho quando a corda lateral do andaime rompeu. A vítima teria tentado se segurar por alguns instantes sem sucesso.

Muito emocionados, colegas que trabalhavam com a vítima disseram que a empresa não cumpre com os cuidados básicos de prevenção de acidentes e utiliza equipamentos antigos que não oferecem segurança.

O técnico de segurança do trabalho responsável pela obra, Andrey Martins, afirmou que não percebeu que o funcionário estava sem o colete de proteção que é utilizado para manter o operário preso à lateral do prédio, o que poderia ter evitado o acidente.

A família está revoltada e já pediu providências ao Ministério Público para embargar a obra. Mas de acordo com o Secretário Municipal de Obras, Carlos Alberto Ribeiro de Sá, a construção passou por fiscalização a dois meses e não foram encontradas irregularidades. O proprietário da construtora não foi localizado para comentar o caso.